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"Vamos balançar a roseira, dar um susto na Portela, no Império, na Mangueira (...). Na roda de gente bamba, freqüentadores do samba vão conhecer o Salgueiro como primeiro em melodia e a cidade exclamará, em voz alta: chegou, chegou a Academia!!!"
Geraldo Babão
1953 / 1960
O Grêmio Recreativo Escola de Samba Acadêmicos do Salgueiro nasceu em 5 de março de 1953 da reunião de duas das escolas de samba do Morro do Salgueiro, na Tijuca - Azul e Branco do Salgueiro e Depois Eu Digo – as quais, posteriormente, se juntou a Unidos do Salgueiro. Já em seu primeiro desfile, com o enredo Romaria à Bahia, em 1954, a vermelho e branco da Tijuca mostrou que já nasceu grande e ficou com a terceira colocação, à frente da Portela. Durante os anos 50, os bons resultados da caçula do carnaval carioca foram conquistando o público e a escola foi se firmando como uma das grandes dos desfiles das escolas de samba.
Figuras importantes do Salgueiro iam surgindo e se destacando no cenário carnavalesco: os compositores Noel Rosa de Oliveira, Duduca, Anescarzinho, Geraldo Babão, Djalma Sabiá, Bala; as baianas Tia Neném e Tia Maria Romana; Paula do Salgueiro; e os salgueirenses Paulino de Oliveira, Casemiro Calça Larga, Neca da Baiana, Pedro Ceciliano, Moacyr Lord e Nélson de Andrade, criador do lema do Salgueiro: “Nem melhor nem pior, apenas uma escola diferente!”
Inovando sempre, o Salgueiro mudou o carnaval carioca apresentando enredos que fugiam aos temas patrióticos impostos pelo Estado Novo. Navio Negreiro, sobre a viagem de escravos para o Brasil, de 1957, e Viagem Histórica Pitoresca ao Brasil, sobre a missão do pintor francês Debret no Brasil, de 1959, são dois exemplos da ousadia salgueirense. O ano de 1959 ficou marcado ainda pela entrada de artistas plásticos na confecção do enredo das escolas de samba, quando o pernambucano Dirceu Nery e a suíça Marie Louise criaram, para o Salgueiro, um belo desfile que surpreendeu a todos, em especial a um dos jurados: Fernando Pamplona, aluno da Escola de Belas-Artes.
Convidado a produzir o carnaval de 1960, ao lado do casal Dirceu e Marie Louise Nery e do figurinista Arlindo Rodrigues, Pamplona propôs o enredo Quilombo dos Palmares, em homenagem a Zumbi, seguindo a temática de exaltação ao negro. Um belo samba, a precisão da bateria e as imagens da África e dos Quilombos expostas na avenida encantaram a todos. Apontada como favorita, o Salgueiro foi proclamado campeão, dividindo o título com outras quatro escolas. O primeiro título foi muito comemorado e não restavam mais dúvidas de que uma nova estética havia sido criada no desfile das escolas de samba do Rio de Janeiro.
1961 / 1970
Os anos 60 são um marco na história do Salgueiro. Foi nesse período que a escola conquistou três campeonatos, apresentou enredos e sambas memoráveis e contribuiu definitivamente para a mudança dos desfiles das escolas de samba.
O desfile de 1963 é uma síntese dessa década. Neste ano, o Salgueiro apresentou uma nova personagem que estava à margem da história oficial - Xica da Silva, uma escrava que vivera em Minas Gerais. Interpretando Xica da Silva, o Salgueiro introduziu também uma personalidade no carnaval carioca: Isabel Valença. A inovação do Salgueiro nesse ano ficou ainda por conta de uma ala de 12 pares de nobres que dançavam uma polca ao ritmo de samba: o Minueto de Xica da Silva. O impacto do desfile do Salgueiro foi irresistível e poucas vezes o grito de “já ganhou!”, que ecoava de ponta a ponta da avenida, foi tão unânime. Quando terminou o desfile, ficou no ar a impressão de que algo muito importante havia acontecido no carnaval carioca. O resultado, incontestável, não poderia ter sido outro: Salgueiro campeão !!!
Uma nova vitória foi desenhada em 1965, com o enredo História do Carnaval Carioca - Eneida, escolhido por Fernando Pamplona para o desfile que comemorou o IV Centenário da Cidade do Rio de Janeiro. Nesse ano, Fernando Pamplona teve como ajudante um jovem bailarino do Theatro Municipal: Joãosinho Trinta. Com um desfile que fez toda a avenida vibrar, o Salgueiro alcançou uma nova vitória, a terceira de sua história.
Após alguns maus resultados nos anos seguintes, em razão de crises políticas e financeiras, que fizeram com que Fernando Pamplona cunhasse uma frase - “Tem que tirar da cabeça o que não pode tirar do bolso” -, o Salgueiro escolheu a Bahia de Todos os Deuses como enredo para o carnaval de 1969. Ao contrário do que todos imaginavam, o Salgueiro veio forte na avenida, com um samba que se tornou antológico (“...Na ladeira tem, tem capoeira, zum zum zum zum zum zum, capoeira mata um ...”) cantado por todo o povo em delírio. Não demorou para o “já ganhou!!!” ser ouvido em toda a avenida. Mais uma vez o Salgueiro era consagrado como a melhor escola de samba do Rio de Janeiro.
1971 / 1980
A força demonstrada nos anos anteriores continuou na década de 70. Em 1971, o Salgueiro segue na temática negra e leva para a avenida Festa para um Rei Negro, enredo sobre a visita de príncipes africanos a Pernambuco. O sucesso desse desfile já começou na escolha do samba enredo. A composição de Zuzuca se espalhou de tal forma que todo o povo conhecia a letra “... Ô-lê-lê, ô-lá-lá, pega no ganzê, pega no ganzá...”. Quando a escola iniciou seu desfile, a avenida parecia um imenso salão de baile onde o povo cantava e dançava. A escola, belíssima, toda de vermelho e branco, impressionou a todos, Mais uma vez a escolhida pelo público foi aclamada pelo júri. Salgueiro campeão do carnaval!
Na briga pelo primeiro bicampeonato, o Salgueiro inova mais uma vez: apresenta o enredo Mangueira: Minha Madrinha Querida, com um samba que também “pegou” em toda a cidade e ficou conhecido como Tengo Tengo (...“Tengo Tengo, Santo Antônio e Chalé, minha gente é muito samba no pé...”). Nunca uma escola de samba havia feito tal homenagem a uma co-irmã. Sempre pioneiro, o Salgueiro seria o primeiro a fazê-la.
Nos anos seguintes, a novidade foi Joãosinho Trinta como carnavalesco da escola. Para 1974, o enredo escolhido foi O Rei de França na Ilha da Assombração, um tema que trouxe o imaginário como uma nova contribuição para o carnaval e modificou de uma vez a tônica para os enredos das escolas de samba. Apesar das dificuldades financeiras, no barracão, Joãosinho Trinta e sua equipe iam transformando em realidade o sonho do menino Luís XIII, que, vendo os preparativos de uma esquadra para invadir terras indígenas, imaginou um Reino de França no Maranhão. Quando a escola entrou na avenida, alguma coisa mudou no carnaval carioca. Todos os detalhes estavam cuidados. O luxo, feito de isopor, papel alumínio, feltro e madeira, mostrava com minúcias, mas sem excessos, o sonho de menino e as lendas do Maranhão. Dias depois, na abertura dos envelopes, o favoritismo da avenida foi confirmado: Salgueiro campeão mais uma vez!
O bicampeonato, que não viera anos antes, estava próximo. Com As Minas do Rei Salomão, o Salgueiro levou zebras, camelos e pirâmides, elementos até então inéditos no desfile, além de muito brilho, cor e efeitos visuais para a avenida. Um luxo jamais visto que causou um grande impacto no público. Tanto impacto, que o público passou da surpresa para aplausos incontidos e gritos de “já ganhou!”. Assim o Salgueiro ganhava o bicampeonato.
Nos anos seguintes, com a saída de Joãosinho Trinta, uma crise, que duraria alguns anos, se instalou na escola. Porém, um fato importante marcou esse período: a inauguração da atual quadra da escola, em 3 de outubro de 1976, no terreno do Confiança Atlético Clube.
1981 / 1990
Os anos 80 não foram dos melhores para os Acadêmicos do Salgueiro. Passando por várias crises financeiras, a escola não tinha praticamente nada e contou basicamente com uma qualidade que jamais faltou à escola: a força e a garra de seus componentes.
O enredo de 1980 - No Bailar dos Ventos, Relampejou mas não Choveu - parece ter sido premonitório para os anos que se seguiram. Ainda assim, durante essa década, mesmo com muitas dificuldades, foram vários os momentos de brilho, em alguns desfiles em que o grito de “já ganhou” ecoou nas arquibancadas. Mas sempre faltava um detalhe. Sempre relampejava. Mas não chovia.
Nesse período, dois momentos pareceram perfeitos para mais um campeonato, mas as expectativas não foram correspondidas na hora do desfile e nem na abertura dos envelopes. Em 1983, um ótimo enredo, Traços e Troças, sobre a história da caricatura no Brasil, foi mal executado e levou a escola ao oitavo lugar, pior colocação desde sua fundação. Na inauguração da Passarela do Samba, em 1984, o ótimo samba Skindô, Skindô estava na boca do povo, mas o Salgueiro novamente não conseguiu reviver seus ótimos momentos na avenida e fez um desfile morno, longe dos melhores carnavais da escola.
A recuperação pareceu vir já no final da década, quando a escola fez desfiles belíssimos, com os enredos de 1988, Em Busca do Ouro, 1989, Templo Negro em Tempo de Consciência Negra, e em 1990, com Sou Amigo do Rei, quando alcançou o terceiro lugar. A década de 90 prometia.
Os bons desfiles do Salgueiro voltaram a se tornar rotina e os resultados obtidos nos três anos anteriores animaram os salgueirenses. Para 1991, a escola veio com um enredo que parecia imbatível – Me Masso se não Passo pela Rua do Ouvidor - e, novamente, com um belo samba que já era cantado por toda a cidade. A escola fez um ótimo desfile e por pouco não conseguiu a vitória. Mas o segundo lugar mostrava a todos que o Salgueiro estava vivo e de volta à disputa dos títulos.
Toda essa expectativa foi confirmada dois anos depois, em 1993, com o enredo Peguei um Ita no Norte, sobre a viagem do navio Ita de Belém até o Rio de Janeiro. O Salgueiro entrou na avenida “possuído” e, antes mesmo de os cronômetros da avenida serem disparados, a empolgação dos componentes já se espalhava pela arquibancada. A escola foi aplaudida de pé durante toda a sua apresentação, fez com que todo o público cantasse seu samba (“...Explode, coração, na maior felicidade, é lindo meu Salgueiro, contagiando e sacudindo essa cidade ...”) e, ao sair da avenida, foi aclamada pelo povo como campeã do carnaval. Em 1993, o Salgueiro fez um desfile que se vê poucas vezes, daqueles que podem ser contados nos dedos. Um desfile mágico em que o resultado não poderia ser outro a não ser a conquista do título. Foi um reencontro sofrido com a vitória que a escola não via há 17 anos. Mas, mais uma vez, o Salgueiro pintou o Rio de Janeiro de vermelho e branco e cantou, a plenos pulmões o samba campeão do carnaval carioca.
O segundo bicampeonato da escola esteve perto, com o enredo Rio de lá pra cá, que obteve o segundo lugar em 1994, quando novamente a escola fez um belíssimo desfile, tônica que continuou nos anos seguintes, em enredos como O Caso do por Acaso, de 1995, sobre a descoberta do Brasil por espanhóis, Anarquistas sim, mas nem todos, de 1996, sobre imigrantes italianos, e homenagens, como Salgueiro é Sol e Sal nos 400 anos de Natal, de 1999 e Salgueiro no Mar de Xarayés, é Pantanal, é Carnaval, de 2001. Apesar de não ter vencido, outros campeonatos na década de 90, a escola desfilou sempre como uma das favoritas à conquista do título, mostrando a todos os amantes do carnaval que o Salgueiro continua grande como nasceu.
Fonte: Salgueiro.com.br
Site oficial
www.salgueiro.com.br