Ele não gosta de café sem açúcar nem comida sem sal E por isso a sua esposa se deu mal Vacilou no fogão não tem perdão Acabou estrangulada e pendurada no varal Ele não gosta de homem nem de homossexual Só do Padre Marcelo porque o padre é legal Esse cara é matador mas acredita no Senhor Jesus E tá sempre com uma cruz pendurada no cordão Na cinta uma pistola, um três-oitão e bastante munição A descrição? Bem, nem alto nem baixo, nem fraco nem forte E feio feito a morte O seu rosto quem conhece não esquece Mas quem vê diz que não viu e que se ver não reconhece O seu nome ninguém sabe dizer Só a mãe que sabia, mas depois de nascer Ele enforcou a coitadinha com o cordão umbilical Tudo isso no quintal, que não tinha hospital Apagou os vizinhos e cresceu ali sozinho Desde menino com um instinto assassino (Mata!) Ele mata pela frente (Mata!) Ele mata por trás (Mata!) Ele mata muita gente (Mata!) Ele mata mas faz Cresceu e quis entrar pra polícia É lógico que foi aprovado no teste psicológico Mas na prova de tiro foi reprovado Porque deu pipoco pra tudo que é lado e derrubou um bocado Frustrado, foi parar numa fazenda Jagunço de responsa, matador por encomenda Mas um dia ele cansou de ser peão Decepou o patrão com um facão e descobriu uma profissão que dá dinheiro: Pistoleiro de aluguel Você paga e dá o nome, que ele manda pro céu Não importa o motivo, adultério ou vingança Guerra de família, discussão na vizinhança O seu objetivo ele alcança Vivo é tudo igual, o que muda é a cobrança Sem terra é por tempo de matança Criança abandonada é por quilo, pesada na balança Operário é um salário E pra matar o pai e mãe é dez por cento da herança Juiz ou delegado, prefeito ou deputado... Todos tem seu preço, que o serviço é tabelado Refrão Ele nunca lê jornal, porque não sabe ler Mas em troca de um presunto recebeu uma tv Começou a ver notícia e descobriu que profissão que dá dinheiro, Muito mais que pistoleiro, é a política: Ganhar grana de verdade, na maior tranquilidade Porque tem a imunidade no país da impunidade "E é por isso que os político tá sempre contratando os meus serviço Pra matar uma pá de gente... Mas agora eu também quero ficar rico Vou me candidatar e tem que ser pra presidente! Deputado, nem pensar, porque um suplente vai mandar algum colega me matar! " Chegou a eleição e as pesquisas apontavam um fracasso Mas ele ganhou fácil Matou os candidatos oponentes um por um E foi eleito presidente sem problema nenhum Na posse ele escondeu o seu revólver sob o terno E prometeu que o seu governo era muito "muderno" Mas depois de pouco tempo começaram os decretos E medidas provisórias, provocando desafetos Aumentaram os impostos e também a oposição Mas ele não gosta de reclamação Só de raiva resolver exterminar os aposentados E dizer que o desemprego era pro bem da nação Refrão (Um pistoleiro incomoda muita gente! O presidente incomoda muita mais! Um pistoleiro assassina muita gente! O presidente assassina muito mais!) E o povo vai morrendo cada vez mais Atingido por emenda anticonstitucionais Quando tem corrupção com telefone grampeado e o cacete Ele varre pra debaixo do tapete Todo tá pagando e o país só tá devendo Presidente tá matando Mas ninguém tá reclamando porque o bicho tá pegando E o coro tá comendo Presidente tá chegando Todo sai correndo porque o presidente é mau, pega um, pega geral! Presidente é mau, pega um, pega geral! Presidente é mau, pega um, pega geral! (Empresário!) (Classe média!) (Zona urbana e rural!) E o povo reunido, muita gente assistindo a cerimônia Da privatização da amazônia Aplaudindo o presidente matador, com medo de vaiar Debaixo de um calor de rachar Ele pára seu discurso pra tirar o terno quente Fica sem camisa e escuta de repente: (Ih! Alá! O presidente esqueceu o três-oitão!) Ele encara a multidão... Põe a mão na cintura e não encontra a pistola ( Ele tá desarmado!) (Pega!) (Esfola!) Ele chora, se apavora e implora piedade Mas agora tá na hora da verdade O povo brasileiro resolveu se vingar Cercou o presidente e começou a gritar: (Mata!) Ele mata pela frente (Mata!) Ele mata pro trás (Mata!) Ele mata muita gente (Mata!) ... Hoje eu tô feliz, matei o presidente.
Compositor:Publicado em 1999 (16/Nov)ECAD verificado fonograma #610932 em 14/Abr/2024 com dados da UBEM