Virava de meio dia, tempo quente de mormaço. Quando pegava meu braço era o Nogueira Leria, índio que a gente aprecia, crioulo do cerne atona.
Vinha rustindo carona no costado d'outro qüera. Era o Ruivo da tapera. Era o Ruivo da cordeona. Era o Ruivo que venero desd'as tropeadas da infância e que aprecio à distância com grande apreço sincero.
Era o Ruivo quero-quero da tradição campechana. Era o Ruivo, a voz pampeana do canal das Missões. Era o pajé dos fogões com floreios na badana.
Era o Ruivo da saudade, o passado vindo das eras olfateando primaveras no rumo da mocidade.
Era o Ruivo de verdade mais sério que um Urutaú. O Ruivo cujo recau, entre as costuras dos bastos guarda as sementes dos pastos das querências do Jarau.
Era o Ruivo do Umbú da tapera desquinxada. O Ruivo venta-rasgada dos trastes de couro cru. O Ruivo do Inhã-Quetru de coração abugrado que o fogão arrinconado lamenta alguém que se foi e só vê olho de boi onde sumiu o seu tostado.
O Ruivo do Quaraí, que mamou no Garupá. O Ruivo do Boi Tatá e da petiça de Anvilha. O Ruivo do Ibicuí de gloriosas correrias. O cantor das Sesmarias, que o Rio Grande consagrou. A saudade se plantou junto à cruz do Malaquias.
O Ruivo que o Aureliano, numa tarde, quase inverno, benzeu, num mate fraterno chimarreando mano a mano, enquanto o vento aragano pelas copas se arranchou e a labareda ondulou como cabelo de gringa que se atirou na restinga e, por amor, se afogou.
O Ruivo que eu encontrei depois de tanto tropear, Sem as garras de domar com que de longe sonhei. o Ruivo de buena lei que simpatias deságua. Até na gaúcha mágoa demonstra grande fortuna. É quieto como laguna quando tem céus dentro dágua.
Ah, Ruivo, bem imaginas, no teu instinto avoengo, as mágoas deste andarengo que vaga trançando esquinas sem umbús nem sina-sinas. Que mal o céu pode ver? Mas que anseia renascer numa gaita, nem que seja quando um broto de carqueja, um dia, quando volver.
Juca Ruivo é, sem alarde, um guarda-fogo de angico. E o galpão de pára a xico quando esse teu astro arde. Eu quero dizer, mais tarde, andarengo payador, ao falar do verso-flor pra que todo mundo entenda: Juca Ruivo não é lenda, eu conheci esse cantor!