Meu velho galpão de estância Da pampa verde-amarela Que ficou de sentinela Da história de nossa infância És um marco na distância Da velha capitania Porque foste a sacristia Do batismo do gaúcho Quando moldou-se o debucho Da pátria que amanhecia
Quinchado de santa fé Oito esteios, pau a pique Até parece um cacique Todo emprumado de pé O legendário sepé Legítimo rei no trono Que desde o primeiro entono Trazia a pátria nos tentos Anunciando aos quatro ventos Que esta pátria tinha dono
Velho bivaque nativo Encravado na cochilha Palanque de curunilha Do rio grande primitivo Altar do fogo votivo Que um dia o guasca acendeu E aceso permaneceu Bordado de picumãs Anunciando aos amanhãs Que o gaúcho não morreu
Não existe nada igual Em qualquer parte do mundo Como o vínculo profundo Do galpão tradicional Que esse fogão ancestral Que acalenta e arrebata Nesta velha casamata Onde o guasca viu a luz Galpão que a história traduz Como oficina de pátria
Foi aqui que se fundiu Aqueles velhos modelos Que serviram de sinuelos Da pátria que constituíram Da pátria que construíram Que a isso se propuseram E nunca se detiveram Porque nunca se detinham Pra perguntar de onde vinham Nem tampouco quantos eram
Foi aqui que descansaram Depois das lides guerreiras Os centauros das fronteiras Que irmanados chimarrearam E foi daqui que marcharam Os andejos e os gaudérios Negros e mulatos sérios E tapejaras errantes Gaúchos e bandeirantes Rasgadores de hemisfério
O grande poeta balbino Marque da rocha escreveu Que o riograndense cresceu Dono do próprio destino Peleando desde menino Criado longe do pai E é ele que um dia vai De boleadeira e de vincha E trás o brasil na cincha Pras barrancas do uruguai
Esse é o galpão que cultuamos Esse é o galpão que queremos Esse é o galpão que erguemos E o galpão que conservamos Como dizia rui ramos Velho tribuno imponente Um pedaço de presente E um pedaço de passado E futuro enraizado No subsolo da gente
Essa legenda, essa história Essa história, essa legenda Desta rústica vivenda Da luta demarcatória Da luta emancipatória Da velha pátria comum Não há preconceito algum No velho galpão campeiro Ao pé de cujo braseiro Sempre há lugar pra mais um
Tribunal e refeitório De maulas e milicianos De charruas e milicianos Sem pátria nem território Hoje és, galpão, repertório Daquelas charlas fraternas E das lembranças eternas Das saudades que ficaram Dos centauros que matearam Nos teus cepos de três pernas
Porém te resta o encargo Velho galpão ancestral Legendária catedral De pátria e de pampa largo No ritual de mate amargo Ainda existe cevadura És um templo na planura De paz, amor e carinho Pra iluminar o caminho Da grande pátria futura
Mas se não houver campo aberto Lá em cima quando eu me for Um galpão acolhedor De santa fé bem coberto Um pingo pastando perto Só de pensar me comovo Eu juro pelo meu povo Nem todo o céu me segura Retorno a velha planura Pra ser gaúcho de novo