O TRUCO é um jogo tão guasca Como a Tava e as Chilenas. Velhas cartas Sarrancenas Quatro a quatro, do Ás ao Rei Trucando assim me criei De Mano, Quatro, Oito ou Seis E até jogando de Três Muito Carancho tosei.
Baralho e mando que cortem Dando por baixo, uma a uma, Cuidando se alguém se apruma Pra ver senha de jeito. É preciso muito peito Pra não sair do recau Olho esquerdo é o Ás de Pau Ás de espada - olho direito.
Hay que ter muita malícia Que TRUCO é jogo do diabo. A senha do Sete Brabo Que vem primeiro, é o de Espada, Carta muito cobiçada Tem uma importância louca: Canto direito da boca Mais ou menos repuchada.
Sete de Ouro, canto esquerdo, Carta de muita valia. Um pobre Três se arrepia Quando o Belo cai no cocho. Senha pra Dois é um muxoxo Que desnorteia o mais sábio. Pra Três, se morde o lábio Quando o jogo corre flocho.
Quem joga bem, faz senha Até de Güeime e de Rei. Com Cavalo já ganhei E a Sota as vezes escora. No jogo hay sorte e caipora, Conforme a volta nos topa. Dei QUERO em cinco de copa Sem botar partida fora.
Envite é o jogo dos pontos Digo ENVIDO ou REAL ENVIDO - A Falta seu atrevido! - QUERO mesmo e te esborracho! Trinta e dois é ponto macho, Trinta também é do diabo, Mas Trinta e Três é o mais brabo, Levanta os outros por baixo.
São linda de ouvir-se as falas E os refrões do jogador. Três cartas de um naipe é FLOR Que a gente acusa cantando: "Iba a mis pagos rumbeando Derecho a mi podre Rancho Quando cruzome un caranho Mi FLOR de china llevando!"
E assim meio entreverado Num dialeto de Fronteira Se canta FLOR de Abobreira, De Espada, de Ouro e de Pau: "Estaba un capincho anidau Haciéndo un cigarro de holla Diciendo a la panza floja Yo tengo FLOR mi cuñau!"
" Su nombre, no era Floduarda, Ni tampouco Florentina, Su nombre era Florisbela E ahijuna! Que FLOR de china!" E assim, nessa relancina, Sem dar prejuízo nem lucro, O TRUCO é o jogo mais chucro Da carteação campesina.
Com FLOR se pucha três tentos Seis pontos - Da CONTRA FLOR TRUCO é dois, seja onde for RETRUCO em três tentos fica. VALE QUATRO o nome explica Não precisa ensinamentos. Perde também quatro tentos Quando alguém com FLOR se achica.
O ENVIDO começa em dois Quando o parceiro não pula Mas tem gente que nem mula Que vai até a FALTA ENVIDO. Geralmente o mais engrido Quando pegado em mentira Ri amarelo enquanto atira: "Vou le dar seu atrevido!"
É bom que saiba quem joga: Jogandor nunca é sincero Pois "Queria" não é QUERO Nem "Vou le dar" tem valor. E aquele que fala FLOR Se não tiver, perde ponto, Isso acontece com tonto Quando se mete a cantor.
De quatro, de Seis e de Oito Há um segredo entre os primeiros: Não brigar c´os companheiros E o Pé mandar na jogada. É a ciência mais acertada De quem maneja uma vaza: A primeira, sempre em casa, O resto se faz na estrada.
E dizer, quando se é Pé: Companheiro! Não se afogue, Venha e nem negra me jogue Seu parceiro é taura forte. Com cueradas não se importe Se alguém lhe pulsear a vaza, Pois formiga cria asa Quando está querendo a morte.
Se alguém le contrapontear Do outro lado da carona: - Rinho a ponto essa rabona - Pois não fio nem empresto, Erga sempre o seu protesto, Não fuja de pulseador, Nunca se achique com FLOR, Meta: - CONTRA FLOR O RESTO!
Jogador é que nem china Não se contenta com QUERO E aquele Sete que espero Pra um Trinta e Três bem fanhoso Quase sempre é mentiroso Como promessa de amor E só louco truca FLOR Quando o naipe é perigoso.
E com Trinta e Três de espada Nunca jogue o seis primeiro. FLOR pequena, meu parceiro, Sempre se canta em voz alta, Pois se a fraqueza ressalta Não faltará quem le minta. Com ponto abaixo de Trinta Não bote nem queira falta.
Nunca tive pretensões De mestre nem professor Mas chambão cantando FLOR Jamais me rouba o sossego, Pois tirei, quando borrego, Meu diploma de carpeta Debaixo de uma carreta Sobre um carnal de pelego.
E aprendi que nesse jogo Se mente grosso até a morte. A magra é a dona da sorte E tem tudo a seu favor,
Mas comigo, não senhor, Pouco me importa o que faça Pode roubar-me a carcaça Mas morro cantando FLOR!