Fulanos E Sicranos
Pensei que fosse um galope, um sonho de-à-trote,
acariciando de toda esta milonga sem rima,
que enrudilhada nas crinas, rejeita tudo que dobra...
Podia ser de-à-cavalo, este entono de galo,
este manejo de freio, este olhar de posseiro,
que amadrinhado nos tentos, estima o suor que lhe sobra.
Pensei que fossemos cúmplices, múltiplos, meigos,
mansos, soltos, vagos, cabeça de gado,
potro e rodeio, na leva dos arremates...
Pensei que fossemos caça, várzea, rio cheio,
campo, quebranto, blanco, chimango,
peão e chibeiro, no aparte do buenas-tarde.
hay milonga hay milonga "buena". hay
Podia haver mais um catre, uma rodada de mate,
uma noitada, um afeto, um bem-me-que descoberto,
uma qualquer novidade, alheia a nossa vontade...
Podia haver mais que terra, pouca miséria,
junta, carreta, soga e soiteira, canga e arado,
benfeitoria e machado.
Pensei que fossemos fruto, suco, bagaço,
lenha, coivara, verde, queimada,
na alienação das porteiras do mata-burro a estrada!
Pensei que fossemos bando, nômades, músicos,
mouros e manos, fulanos sicranos,
sábios paisanos no despertar da manada!
hay milonga.... milonga "buena".
Talvez me faça costado outra milonga ou gateado,
outra figueira, outra sombra, outra paixão sem delongas,
outra carícia antiga, mimosa como a saudade!
Talvez nem seja preciso usar o mesmo alarido,
do quero-quero teatino do boi-tá-tá de mangueira,
pra afugentar as ovelhas arrebanhadas pro gasto!
Preciso acostumar meu dom, aperfeiçoar a voz,
fortalecer o rebanho... ah! que tolice a minha,
fazendo minha vidinha, ensimesmado de abraços!
Preciso amamentar a fome toda dos guachos,
regar a sede dos pastos dar "pérolas aos porcos",
fazer tudo que gosto, pra dar pofia ao passo!
hay milonga...hay milonga "buena".
Compositor: Mauro Sergio Montenegro Moraes (Mauro Moraes)
ECAD: Obra #126164 Fonograma #585157