A noite é minha amante, companheira de insónias É com ela que embarco nas viagens mais insólitas Pelas zonas mais recônditas da minha consciência Embalado numa natural ambivalência Às vezes, quase sufocado, peço clemência Peço à minha cabeça que pare por um bocado. Mergulho em estados vários, munido de lunários Livros de memórias e poemas solitários A noite é uma arena, onde confronto fantasmas Meus medos, minhas ânsias, minhas falhas Qual D. Quixote, de espada apontada ao nada Qual palavra dada à confiança de uma surda-muda Minha confidente autista que só se afasta Quando o sol a empurra para lá do alcance da vista Enquanto presente, inspira-me e absorve-me Protege-me, acompanha-me e conforta-me, sente… Monólogos são simultaneamente a causa e o efeito Desta adoração da qual tiro pouco proveito Admito, mas a noite é ciumenta Penso trocá-la pela prima diária e ela não me deixa Não tenho força… e ela sem mim, também não passa.
À noite desperto pela noite dentro Movimento-me quantas vezes não tento Parar a escuridão procurar a luz, um corpo são Uma cabeça atinada anestesiada mas desperta Para a vida do dia a dia encarrilada Onde todos fazem o que fazem não sabem Ou simplesmente esquecem que à noite despem-se Fardas de farsas despedem-se de regras Mais profundas as almas Mais complexas as atitudes estranhas Este buraco negro no tempo Cola tormento ao contentamento Chama opostos ao entendimento Num irrefletido invulgar comportamento Reparo, anoto e pauso o momento Analizo aproveito, enquanto concentro Calma e melancolia dentro deste mesmo pensamento Entre cumplicidade do vazio provoco actividade Criatividade sem a luminosidade do sol A vastidão do espaço reflete a minha própria liberdade Então torno-me susceptivel à emotividade porque Observo as ruas a chorar nas luzes da cidade Com intensidade por meio d’uma lágrima sei q Por cada candeeiro, aceso no passeio Por cada noite às claras que foi q e veio Eu mantive-me acordado para obter o q vos leio