Michael Jackson - Xscape
Antes de mais nada é preciso dizer que apesar do nome e da foto de MJ na capa do álbum, esse disco pertence tanto, ou mais, aos seus produtores - L.A. Reid e Timbaland em especial. Isso porque esse disco só soa dessa maneira por causa deles.
Como os fãs já sabem, esse é o segundo álbum póstumo de Michael (fora as faixas inéditas da reedição de "Bad", a trilha para o espetáculo do Cirque du Soleil e a trilha de "This Is It") e traz demos e canções que o cantor morto em 2009, deixou pelo caminho, de forma retrabalhada.
É normal se ter uma certa desconfiança com
esse tipo de trabalho. Afinal a princípio essas canções não foram terminadas ou lançadas, provavelmente porque o cantor não estava satisfeita com elas.
Por outro lado, anos e anos de relançamentos em CD de discos clássicos com faixas bônus, nos mostram que muitas dessas músicas podem não ser boas o bastante para fazer frente às canções do álbum original, mas em muitos casos elas se mostram melhores que a produção recente do artista em questão.
Isso tudo para dizer que, ao contrário do que se podia esperar, "Xscape" saiu um belo disco, e talvez não seja exagero em dizer que este é o melhor álbum a estampar o nome de Jackson na capa desde muito provavelmente, "Bad".
Naturalmente nem tudo aqui é material de primeira linha, afinal estamos falando de rascunhos e demos, mas boa parte dessas oito faixas nos relembram de quanto Jackson foi brilhante.
E esse mérito deve sim ser compartilhado com os produtores, que agora já têm, e sabem usar, uma tecnologia de ponta disponível para obter os melhores resultados desse tipo de empreitada - para os que ainda assim acham que não se deve mexer com esse tipo de material , a dica é a de ir atrás da versão deluxe do álbum que traz as faixas em seu formato original..
O fato do disco soar ao mesmo tempo reverente para com o material original - que em alguns casos data de 1983 - e simultaneamente contemporâneo é mérito deles. Fora isso, é bom demais não só poder ouvir Jackson novamente, mas ouvi-lo soando da forma que milhões e milhões de pessoas aprenderam a amar.
Mas que fique bem claro: se MJ estivesse vivo, é muito mais que certo que nenhuma dessas canções teriam vindo à público. O que jamais saberemos é se ele estaria lançando músicas novas, tão boas quanto as presentes nesse "Xscape"
Ouça "Love Never Felt So Good" presente na edição de luxo de "Xscape"
The Black Keys - Turn Blue
Quando surgiram, foi mais do que normal comparar os Black Keys aos White Stripes, afinal eram duas duplas que usavam apenas guitarra e bateria, fazendo uma música crua e direta com influência direta do blues. Também, não demorou muito para que as duas bandas notassem que esse formato era por demais limitador.
Assim, enquanto Jack White preferiu primeiro partir para projetos paralelos e depois, para a carreira solo, os Keys acharam mais interessante expandir seus horizontes.
E como isso foi feito? Permitindo a entrada de novos instrumentos (e instrumentistas) no grupo e, principalmente, dando poderes de "terceiro membro" para Danger Mouse, que não só passou a produzir mas também a compor com a dupla. O resultado dessa decisão não poderia ter sido melhor, já que desde então o sucesso dos Keys só aumentou, sem que eles fossem acusados de "vendidos" ou coisas do tipo.
E assim chegamos a "Turn Blue" o oitavo álbum de Dan Auerbach e Patrick Carney. A maior surpresa é ver que o álbum em quase nada se assemelha a "El Camino" ou "Brothers", os dois álbuns que levaram o grupo para o mainstream. Ou seja, se você está afim de canções com riffs pegajosos e dançantes, ao estilo de "Lonely Boy", pode esquecer, já que a palavra chave
aqui é "clima".
Não que esse seja um álbum de baladas, longe disso, mas ele é um trabalho com faixas mais cadenciadas, onde as levadas e os grooves se sobrepõem.
Ainda que seja menos imediato que os discos anteriores, vale dizer que ele não tem nada de difícil, e que ele também tem boas chances de convencer também quem nunca simpatizou muito com o duo.
A reação da crítica e dos fãs a princípio está sendo boa, ainda que menos entusiasmada do que poderia se esperar. Mas esse é um daqueles discos que precisam de um certo tempo para ser digerido. Independentemente disso os Black Keys mostram que com "Turn Blue" eles ainda seguem como um dos nomes mais interessantes do rock contemporâneo.
Ouça "Fever" com os Black Keys presente no álbum "Turn Blue"
Titãs - Nheengatu
Dada a sua enorme quantidade de vocalistas e compositores os Titãs sempre foram várias bandas em uma. Mesmo agora reduzidos a um quarteto - metade da formação clássica dos anos 80. Isso significa que mesmo entre os fãs de carteirinha existem aqueles que prefiram um determinado período ou faceta do grupo.
Pra quem curte o lado mais pesado da banda - especialmente faixas como "Polícia ou os trabalhos da primeira metade dos anos 90 - esse é o disco que há tempos vocês esperavam deles.
Marcos Hermes
Nheengatu é curto e grosso. Suas faixas raramente passam dos três minutos e todas soam extremamente raivosas, sem espaço para baladas ou canções pop.Essa escolha pela sujeira não deixa de fazer sentido, especialmente no Brasil atual onde um clima de descontentamento prevalece em praticamente todos os setores da sociedade.
Por outro lado, a banda certamente terá dificuldades em emplacar alguma dessas músicas no rádio ou na trilha de alguma novela, já que nada aqui é exatamente radiofônico. A dúvida então fica em saber se o grupo conseguirá renovar o seu público para além do fã de rock brasileiro tradicional. É fato que há toda uma nova geração de ouvintes de sons pesados no Brasil, mas será que, para esses, a música dos Titãs é suficientemente pesada?
Independentemente disso "Nheengatu" é um álbum que merece ser ao menos ouvido. É bom provável que ele fique marcado como uma espécie de monumento dessa época do país, marcada por protestos, linchamentos e slogans como "Não Vai Ter Copa".
Ouça "Fardado" com os Titãs presente no álbum "Nheengatu"