Coldplay - Ghost Stories
Para uma banda que opera dentro do mainstream, vende milhões de discos e é capaz de fazer a venda de seus discos influenciar no desempenho financeiro da EMI, o Coldplay não tem problemas em assumir riscos.
Mesmo a decisão em seu álbum passado, de flertar com o pop que domina as paradas, o que deixou alguns fãs meio contrariados, nãos e pode acusar a banda de repousar em seus louros ou de simplesmente gravar um novo álbum por obrigação. Ainda assim, poucos deveriam imaginar que o quarteto iria parir um disco tão diferente quanto este "Ghost Stories".
As nove faixas (12 na edição de luxo) do disco raramente trazem aquilo que se convencionou chamar de "som Coldplay". Sendo assim, não se engane pelo single "A Sky Full Of Stars" com riff insistente de piano, refrão pegajoso, batida dançante e clima épico - essa canção é quase uma anomalia nesse disco repleto de canções melancólicas onde as texturas eletrônicas se fazem, mais do que nunca, percebidas. Ou seja, é um álbum que deverá agradar especialmente quem gosta dos dois primeiros álbuns deles.
Obviamente o fim do casamento de Chris Martin influenciou nessa leva de canções. É impossível não ouvir essas músicas sem pensar no casamento do vocalista com a atriz Gwyneth Paltrow ruindo.
Por causa disso tudo, vai ser interessante acompanhar o desempenho comercial do álbum e, principalmente, o que as público vai achar dele. Mas, a se julgar pelos ótimos resultados obtidos pelo disco em sua primeira semana de lançamento, o público está aprovando esse "novo" Coldplay.
Em resumo, se você sempre admirou a banda, ouça, e se estranhar, dê mais algumas chances ao disco, ele é daqueles que se desvendam após sucessivas audições. Para quem já desistiu deles, ou nunca se importou com o grupo, vale a pena ouvir esse "Ghost Stories", já que ao menos algumas dessas canções certamente irão impressioná-los.
Ouça "Magic" com o Coldplay presente no álbum Ghost Stories.
The Roots - ...And Then You Shoot Your Cousin
Cada vez mais uma anomalia no mundo do hip-hop, o The Roots segue não só como uma das poucas bandas de rap - em um mundo os solistas agora dominam - como também uma das únicas que usam "instrumentos de verdade".
Quem os viu ano passado em São Paulo, ou os assiste como a banda de apoio do talk show de Jimmy Fallon - certamente notou como eles são não só excelentes instrumentistas como também donos de um enorme carisma. e tudo isso se comprova nesse 11° álbum de estúdio original deles.
"...And Then..." também vai na contramão ao ser um disco enxuto - mais até que Yeezus de Kanye West - com seus pouco mais de 30 minutos. Felizmente esse brevidade torna o disco mais impactante. Na verdade não dá nem mesmo para chamá-lo de um "álbum de rap", já que a banda também abre espaço para improvisos diversos e abraça o soul, funk, jazz e rock sem cerimônias.
Dessa forma o que temos qqui, é um álbum daqueles que é difícil não gostar, que faz uma bela síntese de boa parte do melhor que a música negra americana nos ofereceu nos últimos anos. Recomendado não só para fãs de hip-hop, mas também para aqueles que raramente, ou nunca, conseguem se empolgar com um disco contemporâneo de black music.
Ouça "When The People Cheer" com o The Roots do álbum "... And Then You Shoot..."
R.E.M. - Unplugged The Complete Sessions
Foi em 1992 que o "Acústico MTV" virou uma mina de ouro - especialmente depois que a sessão que Eric Clapton gravou para o programa, foi lançada oficialmente se tornou um dos discos mais vendidos de todos os tempos. A partir dali os artistas - e a indústria - começaram a tratar o programa Unplugged com outros olhos e parte de sua espontaneidade inevitavelmente se perdeu.
Mas um ano antes, quando o R.E.M. participou do programa pela primeira vez, as coisas eram diferentes. Nessa época a ideia era apenas a de mostrar as músicas de forma despojada.
E foi assim, apenas para gravar um especial de televisão que o então quarteto subiu ao palco para mostra hits, faixas cult e várias canções do recém-lançado "Out Of Time" - o álbum que os catapultaria ao estrelato.
Para essa sessão, a banda, acompanhada de mais um guitarrista, tocou um set de 17 canções, sendo que apenas 11 foram ao ar.
O detalhe é que essa foi uma das únicas performances do grupo naquele ano, já que, para surpresa geral, eles decidiram não excursionar, mesmo estando com um dos álbuns mais vendidos do planeta naquele momento.
Apesar de ter sido bastante elogiada, a apresentação da banda nunca foi lançada em disco ou vídeo.
Dez anos depois - em 2001 - o agora trio voltou aos estúdios da MTV para uma nova gravação. Essa foi primeira e única vez que isso aconteceu. Agora a banda ainda gozava de enorme prestígio, mas comercialmente é fato que os discos já não vendiam como antes.
Qualquer outro artista provavelmente teria aproveitado a situação para fazer um set de grandes sucessos, lançar o resultado em disco e dessa forma ressuscitar a carreira. Mas o R.E.M. nunca foi uma banda de fazer o esperado.
Eles simplesmente fizeram um show com 16 canções dando ênfase no material de seus dois últimos discos lançados naquele momento - "Up" e "Reveal" - alguns hits que ficaram de fora do primeiro show - como "The One I Love" - e canções queridas pelos fãs mais antigos.
A única música que eles reprisaram da primeira apresentação foi, como não poderia deixar de ser, "Losing My Religion" e, mais uma vez, o resultado não foi lançado em CD ou DVD.
Finalmente agora, três anos depois do final da banda, as duas participações que a banda fez no "Unplugged MTV" estão saindo em disco. Aqui estão não só as faixas que foram exibidas na televisão, como também o material que ficou de fora.
O resultado final do pacote é bem positivo. A primeira sessão especialmente, traz a banda bem relaxada e se divertindo junto com a plateia e um formato semelhante ao usado aqui pela Legião Urbana - outros que também gravaram o programa sem esperar que ele fosse virar disco.
O show de 2001 já mostra a banda em uma outra fase e nem todo o material sobrevive tão bem ao tempo. Mas, ainda que o disco não tenha o mesmo nível do "Unplugged" do Nirvana - para sempre o "Acústico MTV definitivo - ele certamente pode fazer companhia aos bons discos que gente como Rod Stewart, Neil Young e mesmo Eric Clapton conseguiram fazer através da emissora televisiva.
Ouça a versão de 1991 de "Losing My Religion feita pelo R.E.M. para o "Unplugged MTV"