Passada a maratona de shows do último fim de semana, é chegada a hora de analisar a quarta edição do Lollapalooza e ver o que deu certo e o que deixou a desejar no festival. Felizmente, tanto para público quanto a organização, o saldo se mostra positivo.
Antes de mais nada é preciso parar com a história de "fracasso de público" que estão sendo difundidas. Sim, o Autódromo de Interlagos é gigantesco e certos shows pareciam não estar sendo vistos por muita gente, mas isso é da natureza de um festival com muitas horas e apresentações.
O fato é que no sábado 66 mil pessoas estiveram no Lolla, e no domingo o número foi ainda maior. E, sinceramente, essa parece ser a lotação ideal para o evento, por permitir a livre circulação do público e uma visão ao menos decente dos shows mais visados.
Afinal poucas coisas são piores do que passar horas em um mesmo lugar na base do "daqui não saio, daqui ninguém me tira" para se assistir a um simples show.
A escalação de 2015 poderia ter sido melhor? Sem dúvida, mas também de que adianta colocar várias atrações de peso se no final ninguém consegue assisti-las, seja pela distância entre os palcos ou pelos horários semelhantes? O que se nota é que duas apostas bem distintas acabaram apontando um caminho para as próximas edições.
De um lado artistas com 15, 20 ou, no caso de Robert Plant, mais de 40 anos de estrada, são garantia de espetáculos antológicos e com alta carga emocional - no show do ex-Led Zeppelin, era possível ver muitos "veteranos" com os olhos marejados.
Jack White, que fez um dos melhores concertos já vistos em qualquer das edições do festival no Brasil, também provou que artistas com bom repertório, presença de palco e tempo de estrada têm tudo para criar um show inesquecível.
Do outro lado, a decisão de valorizar os DJs e artistas de música eletrônica, também mostra que
o futuro do festival depende dele conseguir atrair os mais diversos públicos, mesmo que eles não se misturem necessariamente. Calvin Harris, Skrillex e Steve Aoki que superlotou o Palco Perry, em um horário concorrido, provam isso.
Que o pop/rock nacional anda em um momento de crise, não é novidade para ninguém. Em um cenário com pouquíssimos artistas do estilo no mainstream, a opção por escalar grupos conhecidos apenas no underground ou não tão populares - à exceção de Pitty e de Marcelo D2, sendo que este só entrou no Lolla aos 47 do segundo tempo - também se mostra uma boa opção.
Boogarins, Far From Alaska e O Terno certamente deixaram o palco satisfeitos e com alguns fãs a mais do que tinham antes do festival. Some a isso também um público mais aberto à novidades, que chegou a pegar de surpresa os integrantes da Banda do Mar (depois do show eles falaram rapidamente com o Vagalume e se mostraram surpreendidos com o tamanho da audiência e o carinho que lhes foi dispensado).
Onde o Lolla ainda precisa melhorar são nas chamadas atrações "intermediárias". É aí que se pode arriscar, buscar novidades ou atrações cult, em resumo, surpreender.
Assim, foi uma pena que os tuaregues do Tinariwen ou os históricos The Specials - que tocaram no Lolla chileno - não tenham feito shows também por aqui. A bastante elogiada performance de St. Vincent - um dos destaques do festival - prova que esse é um caminho que pode, e deve, ser melhor explorado.
Isso quer dizer que o Lolla 2015 foi perfeito? Claro que não. A saída continua sendo problemática e pessimamente sinalizada.
Não foram poucos os pagantes que tiveram que andar quilômetros e quilômetros até a estação de trem por terem saído por um portão mais distante.
Uma ideia aqui seria a adoção de um serviço de vans ou ônibus que fizessem esse trajeto, como se via no festival Planeta Terra, ao menos no final do dia.
O fato é que muita gente que poderia ir ao festival - especialmente o público com mais de 30 anos - desiste da ideia ao se imaginar em filas, empurra empurra e vagões de trem superlotados.
Os preços também poderiam ser (bem) menos abusivos. Afinal, convenhamos que vender uma lata de cerveja a 10 reais e um hambúrguer por R$22,50 vai além do aceitável em um lugar onde as pessoas passarão muitas horas. Para piorar, tivemos relatos de pessoas que foram vítimas de furtos dentro do Autódromo, o que é inadmissível.
Finalmente, temos o velho problema da enorme distância entre os palcos. E esse parece ser o de mais difícil solução.
Nesta edição, mesmo com os vários quilômetros que os separavam, ainda era possível ouvir alguns vazamentos sonoros, algo que só iria piorar se eles fossem mais próximos. É aí que a organização dos horários precisa ser feita com grande cuidado.
Claro que é difícil prever o que cada pessoa quer ver no festival. Mas seria bom se as atrações que, em tese, atraem públicos semelhantes fossem colocadas em sequência nos palcos menos distantes entre si. Afinal, não tem nada mais chato do que perder um show simplesmente porque não se quer andar muito.
Ou seja, entre trancos e barrancos, o Lollapalooza acabou aprovado, ainda que não com louvor. Que ele volte no ano que vem e ainda melhor é que nós, fãs de música, esperamos.
Quais foram os shows que você mais curtiu no Lollapalooza? Comente!
Antes de mais nada é preciso parar com a história de "fracasso de público" que estão sendo difundidas. Sim, o Autódromo de Interlagos é gigantesco e certos shows pareciam não estar sendo vistos por muita gente, mas isso é da natureza de um festival com muitas horas e apresentações.
O fato é que no sábado 66 mil pessoas estiveram no Lolla, e no domingo o número foi ainda maior. E, sinceramente, essa parece ser a lotação ideal para o evento, por permitir a livre circulação do público e uma visão ao menos decente dos shows mais visados.
Afinal poucas coisas são piores do que passar horas em um mesmo lugar na base do "daqui não saio, daqui ninguém me tira" para se assistir a um simples show.
A escalação de 2015 poderia ter sido melhor? Sem dúvida, mas também de que adianta colocar várias atrações de peso se no final ninguém consegue assisti-las, seja pela distância entre os palcos ou pelos horários semelhantes? O que se nota é que duas apostas bem distintas acabaram apontando um caminho para as próximas edições.
De um lado artistas com 15, 20 ou, no caso de Robert Plant, mais de 40 anos de estrada, são garantia de espetáculos antológicos e com alta carga emocional - no show do ex-Led Zeppelin, era possível ver muitos "veteranos" com os olhos marejados.
Jack White, que fez um dos melhores concertos já vistos em qualquer das edições do festival no Brasil, também provou que artistas com bom repertório, presença de palco e tempo de estrada têm tudo para criar um show inesquecível.
Do outro lado, a decisão de valorizar os DJs e artistas de música eletrônica, também mostra que
o futuro do festival depende dele conseguir atrair os mais diversos públicos, mesmo que eles não se misturem necessariamente. Calvin Harris, Skrillex e Steve Aoki que superlotou o Palco Perry, em um horário concorrido, provam isso.
Que o pop/rock nacional anda em um momento de crise, não é novidade para ninguém. Em um cenário com pouquíssimos artistas do estilo no mainstream, a opção por escalar grupos conhecidos apenas no underground ou não tão populares - à exceção de Pitty e de Marcelo D2, sendo que este só entrou no Lolla aos 47 do segundo tempo - também se mostra uma boa opção.
Boogarins, Far From Alaska e O Terno certamente deixaram o palco satisfeitos e com alguns fãs a mais do que tinham antes do festival. Some a isso também um público mais aberto à novidades, que chegou a pegar de surpresa os integrantes da Banda do Mar (depois do show eles falaram rapidamente com o Vagalume e se mostraram surpreendidos com o tamanho da audiência e o carinho que lhes foi dispensado).
Onde o Lolla ainda precisa melhorar são nas chamadas atrações "intermediárias". É aí que se pode arriscar, buscar novidades ou atrações cult, em resumo, surpreender.
Assim, foi uma pena que os tuaregues do Tinariwen ou os históricos The Specials - que tocaram no Lolla chileno - não tenham feito shows também por aqui. A bastante elogiada performance de St. Vincent - um dos destaques do festival - prova que esse é um caminho que pode, e deve, ser melhor explorado.
Isso quer dizer que o Lolla 2015 foi perfeito? Claro que não. A saída continua sendo problemática e pessimamente sinalizada.
Não foram poucos os pagantes que tiveram que andar quilômetros e quilômetros até a estação de trem por terem saído por um portão mais distante.
Uma ideia aqui seria a adoção de um serviço de vans ou ônibus que fizessem esse trajeto, como se via no festival Planeta Terra, ao menos no final do dia.
O fato é que muita gente que poderia ir ao festival - especialmente o público com mais de 30 anos - desiste da ideia ao se imaginar em filas, empurra empurra e vagões de trem superlotados.
Os preços também poderiam ser (bem) menos abusivos. Afinal, convenhamos que vender uma lata de cerveja a 10 reais e um hambúrguer por R$22,50 vai além do aceitável em um lugar onde as pessoas passarão muitas horas. Para piorar, tivemos relatos de pessoas que foram vítimas de furtos dentro do Autódromo, o que é inadmissível.
Finalmente, temos o velho problema da enorme distância entre os palcos. E esse parece ser o de mais difícil solução.
Nesta edição, mesmo com os vários quilômetros que os separavam, ainda era possível ouvir alguns vazamentos sonoros, algo que só iria piorar se eles fossem mais próximos. É aí que a organização dos horários precisa ser feita com grande cuidado.
Claro que é difícil prever o que cada pessoa quer ver no festival. Mas seria bom se as atrações que, em tese, atraem públicos semelhantes fossem colocadas em sequência nos palcos menos distantes entre si. Afinal, não tem nada mais chato do que perder um show simplesmente porque não se quer andar muito.
Ou seja, entre trancos e barrancos, o Lollapalooza acabou aprovado, ainda que não com louvor. Que ele volte no ano que vem e ainda melhor é que nós, fãs de música, esperamos.
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