Gwen Stefani - This Is What The Truth...
Os últimos anos foram intensos para Stefani. Do lado artístico tivemos o retorno do No Doubt (a partir de 2012), que rendeu um novo álbum recebido com certa frieza por público e crítica, e alguns shows, esses com melhor recepção.
Pessoalmente, a cantora viu seu casamento de treze anos, com Gavin Rossdale do Bush, chegar ao fim.
Finalmente, também tivemos uma espécie de encontro entre esses dois mundos, já que a cantora agora está noiva do cantor Blake Shelton, seu parceiro de júri no The Voice.
Foi no meio desse turbilhão de emoções que "This Is What The Truth Feels Like", o primeiro trabalho solo dela em quase uma década nasceu. O terceiro álbum da cantora não irá causar grandes surpresas, é um disco de música pop escrito por ela com uma série de parceiros e produtores - mas que consegue manter certa unidade temática e sonora.
Ainda que o álbum tenha momentos mais para cima, não se pode negar que um clima melancólico percorre o trabalho todo. E é exatamente essa opção que faz com que o trabalho se distancie de outros álbuns de música pop que chegam semanalmente ao mercado.
Stefani segue cantando bem, e, importante, não faz de sua carreira solo uma mera extensão daquela com a banda que a revelou.
Assim, ela entrega um disco que pode não ser muito imediato ou para todas horas, mas que tem inegáveis méritos. Entre os destaques vale citar "Misery" e "Where Would I Be?", ambas com influência da música jamaicana, e o single "Make Me Like You" com sua levada que atualiza a disco music para o século 21.
Ouça "Make Me Like You" com Gwen Stefani presente em "This Is What The Truth..."
Iggy Pop - Post Pop Depression
Não é nem o caso de dizer que esse é o melhor trabalho de Iggy Pop, em quase 40 anos - álbuns como "New Values" (1979) e boa parte de sua produção nos anos 90 são mais do que dignas - mas é difícil não ficar impressionado com esse disco feito pelo veterano artista em colaboração com Josh Homme (o líder do Queens Of The Stone Age).
Feito em segredo e em pouco tempo, no começo do ano passado, o disco surpreende por valorizar o lado mais cerebral de Iggy, ao invés do mais primitivo e bruto, a que nos acostumamos ver.
Feito com uma banda enxuta - além de Homme temos o baterista Matt Helder dos Arctic Monkeys e o baixista Dean Fertita (do Dead Weather e também do QOTSA) - tem nove faixas excelentes. Homme se mostra o parceiro ideal, principalmente por reconectar o cantor aos seus dois melhores trabalhos - "The Idiot" e "Lust For Life", ambos de 1977 e feitos em parceria com David Bowie.
Afinal, seria fácil para eles fazerem um bom disco de rock de garagem pesado no estilo dos Stooges - a banda que revelou Iggy no final dos anos 60.
Felizmente Homme tinha um plano mais interessante na cabeça e teve a sorte de encontrar um Iggy bem receptivo às suas ideias.
Vale dizer que toda essa história começou com Pop enviando uma mensagem de texto há algum tempo para Josh sugerindo que os dois fizessem alguma coisa juntos.
"Post Pop Depression" soa como um clássico instantâneo, daqueles que você sabe que estarão nas listas de melhores do ano e também da década. Iggy diz que este é o seu último álbum - ao menos o derradeiro feito "da forma tradicional". Se for o caso, não deixa de ser uma triste coincidência ver que ele e seu mentor e amigo David Bowie lançaram seus derradeiros discos no mesmo ano. Por outro lado, é inspirador ver que ambos decidiram sair de cena com álbuns não menos que brilhantes.
Ouça "Break Into Your Heart" com Iggy Pop presente no álbum "Post Pop Depression"
Céu - Tropix
Há mais de uma década que Céu vem se mostrando uma de nossas artistas mais fundamentais. A paulistana de 36 anos vem construindo uma carreira interessantíssima e de grande impacto que mira tanto o Brasil quanto o mercado exterior.
Em breve ela fará shows nos EUA e Europa que prometem ser muito bem sucedidos, a se julgar pela recepção que "Tropix" vem recebendo da imprensa estrangeira - o New York Times e o AllMusic Guide publicaram resenhas muito elogiosas.
O que surpreende na cantora é a sua inteligência na hora de tocar sua carreira. Ela sempre demora três ou quatro anos entre seus lançamentos (ainda que no ano passado um álbum ao vivo tenha chegado ao mercado) e faz questão de deixá-los bem diferentes entre si.
Desta feita ela optou por fazer um disco pop, com inegável influência tropicalista, mas com a cabeça voltada para o futuro e instrumentação eletrônica. Assim ela entrega um disco que pode, e deve, agradar não só seus fãs ou o público de música brasileira, mas também quem admira os trabalhos de gente como St. Vincent, Julia Holter ou mesmo o Tame Impala (vide a psicodélica "Camadas", uma das melhores do disco).
"Tropix" é também um disco autoral, já que apenas duas de suas músicas não contam com a autoria ou coautoria dela.
Essas também merecem destaque. "Chico Buarque Song" é uma espetacular cover da canção da banda pós-punk paulistana Fellini e "A Nave Vai" é um presente dos céus (com o perdão do trocadilho) dado a ela por Jorge Du Peixe da Nação Zumbi. Em resumo, um grande disco que deve ser ouvido especialmente por quem gosta de dizer que ninguém faz música boa no Brasil atual.
Ouça "Perfume Do Invisível" com Céu presente no álbum "Tropix"