Marisa Monte - Coleção
Esse não é um novo álbum de inéditas, mas sim uma compilação de faixas que ela gravou em trabalhos de outros artistas ou em projetos especiais. Assim, não dá para exigir dele muita homogeneidade.
Ainda assim, é incrível ver como Marisa consegue deixar a sua marca cantando os mais diversos estilos. Sim, porque o que temos aqui é uma verdadeira salada musical com MPB, pop, tango, samba, baladas românticas e clássicos do nosso cancioneiro e parceiros igualmente variados e de várias partes do mundo.
O disco, assim, mostra como a cantora é não só uma espécie de embaixadora da nossa música, como também uma grande divulgadora da produção cultural de vários países por aqui.
"Coleção" então junta duetos dela com a saudosa cabo-verdiana Cesária Évora, a portuguesa Carminho, o argentino Gustavo Santaolalla, o americano David Byrne (em uma cover incrível de "Águas de Março" registrada nos anos 90) ou a mexicana Julieta Venegas.
A paixão pela Portela também se mostra presente na versão de "Carinhoso" feita com Paulinho da Viola e nos sambas gravados com a Velha Guarda da escola e o compositor Argemiro Patrocínio.
O trabalho ainda tem faixas gravadas para trilhas-sonoras, um dueto com o sempre parceiro Arnaldo Antunes e "Nu Com A Minha Música" canção pouco lembrada de Caetano Veloso com as participações de Rodrigo Amarante e o americano Devendra Banhart.
"Coleção", serve para acalmar os fãs enquanto o disco novo não sai, mas pode ser ouvido tranquilamente como um álbum da cantora, um disco bem eclético é verdade, mas que mostra os motivos que fizeram de Marisa Monte um dos maiores nomes da nossa música.
Ouça "Nu Com a Minha Música" com Marisa Monte presente no álbum "Coleção"
Drake - Views
Essa álbum confirma o nome de Drake como um dos mais populares da música pop contemporânea. O rapper acaba de emplacar esse álbum no topo da parada britânica, e deve conseguir o mesmo feito na dos EUA, onde ele reina há um bom tempo.
"Views" certamente agradará os fãs do canadense, talvez até demais, já que o trabalho ultrapassa os 80 minutos com suas 20 faixas.
esse inclusive talvez seja um dos problemas do disco, já que o excesso de material acaba cansando certa fadiga no ouvinte mais casual.
Ou seja, talvez tivesse sido melhor que ele lançasse um álbum mais conciso como "Yeezus" de Kanye West ao invés desse grande manifesto. Por outro lado, hoje em dia é perfeitamente possível criar uma playlist com as suas faixas favoritas, e esse é um álbum que deverá se beneficiar desse artifício.
Nesse quarto trabalho solo, Drake dá preferências às faixas mais melódicas e lentas à exemplo do megahit "Hotline Bling", mas não só.
Temos também a influência da música jamaicana e do novo R&B e algumas músicas mais raivosas e pesadas. As participações especiais são poucas, mas de impacto - Rihanna, Future e Wiz Khalifa entre eles.
A crítica no geral recebeu o disco com respeito, mas inegável frieza, ao menos quando comparados aos elogios rasgados recebidos recentemente por Beyoncé ou Rihanna.
Apesar disso, o álbum deverá ficar um bom tempo na lista dos mais vendidos e emplacar mais alguns singles nas listas das mais tocadas. Ou seja, vale a pena escutá-lo ao menos uma vez na íntegra e depois separar as suas faixas favoritas.
Ouça "Hotline Bling" com Drake presente no álbum "Views"
Brian Eno - The Ship
Brian Eno é um dos grandes visionários da cultura moderna. Grande teórico, além de músico e produtor revolucionário, pode-se dizer que a sem ele a música atual seria bem diferente. Afinal, ele foi um dos pioneiros da música eletrônica, e mostrou que os sintetizadores abriam enormes, e ainda inexplorados, caminhos.
Suas produções e colaborações com David Bowie, Talking Heads e U2 são igualmente fundamentais, assim como os dois primeiros discos que gravou com o Roxy Music no início dos anos 70 que o tornaram conhecido.
Eno também criou a "ambient music" - uma música que, segundo ele, deveria ter a mesma função de um quadro em uma parede, ou seja, deveria ser encarada como uma decoração e não com o centro das atenções. Esse conceito acabou fazendo surgir uma série de estilos musicais, incluindo algumas vertentes da música eletrônica mias relaxante como o chill out.
Finalmente, o artista também gravou uma série de discos mais voltados ao pop. Um pop esquisito, logicamente, mas cativante e extremamente ousado.
A novidade deste "The Ship" está na união dos dois "Enos": o compositor de peças ambientais quase eruditas e o mais acessível. O trabalho tem apenas quatro faixas, as duas primeiras bem longas - 21 e 18 minutos respectivamente - irão exigir mais do ouvinte acostumado apenas aos sucessos do momento, afinal tem-se a impressão de que pouca coisa acontece aqui, a não ser algumas notas de teclado que aumentam ou diminuem de intensidade acompanhadas pelo canto de compositor - que está com uma voz mais grave do que o habitual - em um clima que pode ser chamado de fantasmagórico.
Mas há uma beleza incrível nessas peças, que começaram como trilha para uma "instalação sonora" que foi exibida na Suécia. Uma beleza que é descoberta aos poucos, mas que quando enfim se revelam mostram-se cativantes.
As outras duas faixas são mais curtas. Uma delas tem o ator Peter Serafinowicz (a voz de Darth Maul no episódio 1 de "Star Wars") declamando um poema enquanto Eno toca piano ao fundo. No encerramento, temos uma incrível versão para "I'm Set Free" do Velvet Underground, banda que teve em Eno um de seus mais apaixonados divulgadores.
Ouça a cover que Brian Eno fez para "I'm Set Free" do Velvet Underground no álbum