Rolling Stones - "Blue & Lonesome"
Com esse álbum, o 23° da banda, os Rolling Stones de forma inesperada, inclusive para eles mesmos, acabaram retornando aos seus primórdios. Afinal quando surgiram, em 1962, tudo o que eles queriam era tocar as canções que ouviam nos discos de blues e rock 'n' roll que vinham da América.
"Blue & Lonesome" não foi um trabalho premeditado. Na verdade, a intenção do quarteto era começar a preparar um novo trabalho de músicas inéditas. Para se aquecer eles começaram a relembrar alguns blues antigos.
Depois de algumas versões, não demorou muito, para verem que havia um projeto desabrochando na frente deles e assim o novo disco nasceu, de forma rápida - foram apenas três sessões no ano passado - espontânea e à moda antiga - com quase tudo sendo gravado ao vivo no estúdio, com direito a participação de Eric Clapton em duas faixas, uma delas "I Can't Quit You Baby", composição de Willie Dixon, gravada por Otis Rush e conhecida pelos roqueiros pela versão do Led Zeppelin.
Assim nasceu o primeiro disco exclusivamente de blues dos Stones. Afinal se os três primeiros discos deles eram compostos basicamente por versões, eles também tinham muitas covers de sucessos do R&B, soul e rock 'n' roll.
A opção do grupo foi por se ater a canções quase sempre obscuras. Mick Jagger disse que não fazia muito sentido regravar coisas que eles já tinham registrado em disco, ou fazer a enésima versão de algo como "(I'm Your) Hoochie Coochie Man".
Ainda assim não deixa de ser uma surpresa se deparar com um disco de covers de blues dos Stones sem nenhuma faixa originalmente gravada por Muddy Waters ou John Lee Hooker, para ficarmos em dois nomes que os influenciaram diretamente. Por outro lado, eles não se esqueceram de Howlin' Wolf - lembrando que o então quinteto colocou Little Red Rooster" dele no topo da parada britânica em 1964.
"Blue & Lonesome" mostra que ainda existe sangue pulsando nas veias da banda, e que nem só de shows em estádios ao redor do mundo tocando basicamente o mesmo repertório há 35 anos é feita a vida.
Agora é torcer para que esse mesmo espírito seja mantido na hora deles gravarem o tal disco de inéditas que acabou sendo abandonado.
Ouça "Ride 'Em On Down" com os Rolling Stones presente no álbum "Blue & Lonesome"
Bob Dylan - "The Real Albert Hall Concert"
As leis de copyright na Europa e EUA, que dizem que se o material não for usado por 50 anos passam a ser de domínio público, estão forçando as gravadoras a colocar no mercado uma série de gravações de arquivo sob o risco de perderem o direito delas.
No ano passado a Sony já havia lançado um caixote as gravações que Dylan fez em estúdio em 1965 e 1966 (em versões com 2, 6, ou 18 CDs) e em 2016 foi a vez de um pacote com todos os concertos feitos por ele também em 66 ganhar lançamento oficial.
Soa exagerado, e é mesmo, mas, creiam, para os verdadeiros "Dylanófilos" (e existem milhares, senão milhões deles mundo afora) é algo para se festejar.
A razão para isso está no fato dessa ser uma das turnês mais importantes da história. Foi aqui que o cantor desafiou seu público ao subir no palco ao lado de uma banda de rock - algo que os fãs de música folk consideravam um sacrilégio e fizeram questão de deixar claro nos shows onde o cantor invariavelmente se apresentava sob vaias e em conflito direto com o público.
O concerto mais notório desse giro já havia saído oficialmente em 1998, depois de circular por anos em cópias piratas. Foi o show acontecido em Manchester na Inglaterra, onde ele foi chamado de Judas por um membro do público. Por um erro do "pirateiro", o disco circulou como se ele tivesse sido gravado no Royal Albert Hall em Londres.
Para quem não tem tempo, dinheiro ou mesmo paciência para escutar a caixa com 36 discos, um disco com o verdadeiro show do Albert Hall está sendo lançado.
O repertório é o mesmo, bem como a estrutura do concerto, com uma parte acústica com sete canções (essas bem aplaudidas) e a elétrica com oito (quando o caos se instaura). Ainda assim existem diferenças na forma como essas canções são mostradas e no clima do público. O de Londres parece mais tolerante que o de Manchester, ainda que a sensação de perigo esteja sempre lá.
Em resumo, o fã mais fiel certamente irá apreciar o álbum do que o ouvinte menos devoto. Mas a chance de se ouvir mais um concerto (ou vários) de uma das turnês mais notórias da história deve sempre ser apreciada.
Ouça "" com Bob Dylan presente em "The Real Albert Hall 1966 Concert"
John Legend - "Darkness And Light"
John Legend é aquele tipo de artista que se pode confiar. Todos seus álbuns mantém um certo padrão de qualidade e quem o escuta sabe mais ou menos o que esperar: uma série de canções influenciadas pelo melhor da soul music dos anos 70, mas sem que elas soem exatamente retrô e sim como uma continuação natural da música daquele período.
"Darkness And Light" é o quinto álbum do cantor e compositor e não vai desapontar os fãs e quem tem apreço por esse tipo de música. Legend mostra que continua um excelente cantor.
Para ajudá-lo nas composições ele cercou-se também de gente talentosa e inusitada - como o cultuado Will Oldham ou o cantor e compositor Tobias Jesso Jr.. As participações especiais são limitadas e de primeira: Brittany Howard dos Alabama Shakes, Miguel e Chance The Rapper, os três deixando sua marca nas faixas em que participam e ajudando a tornar esse mais um, entre vários, dos bons discos lançados em 2016.
Ouça "Love Me Now" com John Legend presente no álbum "Darkness And Light"
Comentários