Lulu Santos está chegando aos 70 anos neste dia 4 de maio de 2023 e temos muito o que celebrar. Afinal não é todo dia que um gênio do pop completa sete décadas. Apesar de ter começado na década de 70, ele fez parte do progressivo Vímana, ao lado de Ritchie e Lobão. Foi nos anos 80, já próximo dos 30 anos, que ele se tornou um artista conhecido.

Se o Brasil dos anos 80 e 90 ainda tivesse uma indústria de compactos, é bem possível que Lulu iria deter alguns recordes de vendas de singles. Como a nossa indústria começou a abrir mão do formato justamente quando ele despontou, Lulu quase sempre teve que se "contentar" em ser um artista com muitos sucessos de rádio (e shows sempre cheios) mas de vendas geralmente medianas.
Lulu Santos

Isso significa que a grande maioiria das pessoas o conhecem apenas por esses sucessos, realmente tendo escutado alguns de seus vários álbuns, muitos deles excelentes.

Esse especial relembra cinco discos do, agora, septuagenário. Ele traz uma coletânea de sucessos, afinal não podemos nos esquecer do Lulu hitmaker, dois LPs que venderam bastante e outros dois que precisam muito serem mais conhecidos pelos fãs de música brasileira.

"Último Romântico" (coletânea de 1987)
Lulu Santos

Os três primeiros álbuns de Lulu renderam uma série de sucessos que, ainda hoje, formam a base dos shows do cantor. "Tempos Modernos" (1982), "O Ritmo do Momento" (1983) e "Tudo Azul" (1984), não podem ser resumidos a esses sucessos, ainda que todos tenham lá seus deslizes.

Por isso, começamos esse especial selecionando uma compilação que, curiosamente, deixou de fora as músicas de "Normal", o disco "difícil" (e bom) de 1985.

Essas 12 faixas resumem perfeitamente a fase do cantor na Warner e também tem uma importância histórica. "Último Romântico" foi a primeira coletânea de sucessos de um artista do rock brasileiro que gravou exclusivamente nos anos 80.



"Lulu" (1986)
Lulu Santos

No ano em que o rock brasileiro de fato explodiu, com RPM, Titãs, Paralamas e Legião vendendo milhares e milhares de cópias de seus novos discos, Lulu veio com um de seus discos mais consistentes e bem sucedidos.

Agora na RCA e se auto-produzindo, o cantor veio com um material eclético, pop, rock de garagem, reggae, disco music e até uma tentativa de rap (em "Condição") convivem em harmonia no disco que tem pelo menos duas joias da música pop brasileira em todos os tempos: Casa" e Um Pro Outro".



"Popsambalanço e Outras Levadas" - 1989
Lulu Santos

Após dois discos de grandes vendagens, "Toda Forma de Amor" e o ao vivo "Amor À Arte". Lulu sentiu que era a hora de confundir o seu público novamente. O fato de "Popsambalanço" ainda não ser objeto de culto é um mistério. Afinal ele tem a receita perfeita para isso, a começar pelo artista que "vira as costas para o sucesso" e aposta em uma sonoridade nova.

"Popsambalanço" antecipa muito do pop/rock brasileiro dos anos 90, com suas influências de Jorge Ben Jor e da música brasileira. Isso sem abrir mão da produção moderna, que, sim, pode até soar datada, em alguns momentos, mas não a ponto de atrapalhar a audição.

Quem não conhece o LP e resolver escutá-lo pela primeira vez deverá se surpreender com o samba rock instrumental "Parangolé", a faixa de abertura "Brumário" ou a versão de "Samba Dos Animais" de Jorge Mautner.

Talvez o "problema" aqui é que Lulu sempre foi pop e, nem que quisesse, conseguiria deixar de mostrar seu talento nato para a melodia de rápida assimilação - ser cult e popular ao mesmo tempo não é lá muito fácil.

Essa faceta dele está concentrada no lado B do vinil. Aí então temos o segundo mistério: como é que faixas tão acessíveis, como "Vicino" e a balada "Os Sobreviventes" não viraram grandes sucessos nacionais?



"Mondo Cane" - 1992
Lulu Santos

Único disco dele pela Polygram, ele logo voltaria para a RCA, "Mondo Cane" é outro disco que deveria ser mais cultuado, agora pelos fãs de indie rock. Em seu nono disco de estúdio, e antes da chegada do britpop, o cantor resolveu deixar aflorar o seu lado beatlemaníaco, e também o de fã de rock dos anos 70, em um de seus trabalhos mais simpáticos. Com as guitarras em primeiro plano, o LP passou meio batido, mas escondia uma pérola que o tempo se encarregou de fazer justiça.

Foi daqui que saiu "Apenas Mais Uma de Amor", música que se tornaria uma das mais queridas já escritas por ele - no Spotify a versão gravada para o "Acústico" é, de longe, a música mais ouvida do músico no Spotify (dez vezes mais que "Como Uma Onda"). Dica: a versão original é tão ou mais bonita que a feita para o projeto da MTV.



"Eu e Memê, Memê e Eu" - 1995
Lulu Santos

Em 1994, Lulu voltou para a RCA e, surpresa, se viu não só com um disco de bastante sucesso, "Assim Caminha A Humanidade", como também viu a crítica, que sempre pegou pesado para com ele, admitindo que o carioca era sim um artista de talento único e, teimosias e escorregadas à parte, digno dos maiores elogios.

"Assim Caminha..." tinha além de ótimas composições uma sonoridade moderna, mostrando o cantor ligado na música eletrônica e suas possibilidades. Esse flerte se transformou em casamento no trabalho seguinte do músico.

"Eu e Memê, Memê e Eu", como o título deixa claro, é um trabalho feito em conjunto com o produtor e DJ e fez de Lulu um improvável sucesso também nas pistas de dança.

Apesar de lançado já na era do CD, ele funciona melhor no vinil, com duas metades distintas. A primeira delas traz o material novo, com regravações de hits de Tim Maia, Roberto Carlos e Marina Lima, além de sua interpretação para "Sereia", composição dele e Nelson Motta gravada por Fafá de Belém em 1983 .

O "Lado B" foi onde Memê deitou e rolou, podendo se divertir com alguns dos grandes hits do artista como "Casa", "Tudo bem" e "Toda Forma De Amor". Resultado? Outro sucesso de vendas e crítica.

"Eu e Memê..." vendeu mais de um milhão de cópias e foi recentemente considerado um dos 500 maiores discos da música brasileira (uma das quatro presenças de Lulu Santos no livro que foi editado pelo jornalista Ricardo Alexandre).