Neste 19 de junho de 2024, Chico Buarque de Hollanda faz 80 anos. O cantor, compositor e escritor, completa oito décadas em plena atividade. Após ter completado uma turnê ao lado de Mônica Salmaso em 2023, já imortalizada no álbum ao vivo "Que Tal Um Samba?", ele se prepara para lançar mais um livro.

"Bambino a Roma" sai em agosto e, em forma de autoficção, traz o autor relembrando sua infância na capital italiana.

Chico não grava mais com a mesma frequência, "Caravanas", apenas seu terceiro álbum de inéditas no século 21, quarto contando com a trilha da peça "Cambaio" escrita com Edu Lobo, saiu em 2017.

Felizmente, o poeta maior da MPB deixou uma obra discográfica grande e
consistente, iniciada em 1966 - com o LP que traz na capa ele com cara de alegria e tristeza que virou um dos mais populares memes da Internet.

Chico Buarque
Por ter trabalhado mais com as formas tradicionais da nossa música, os LPs de Chico não são marcados por grandes mudanças estilísticas ou experimentos radicais. A opção lhe garantiu uma discografia coesa e regular. Resumindo: quem gosta de Chico Buarque vai achar achar material de seu interesse em todo e qualquer disco com sua assinatura.

Obviamente, alguns trabalhos se sobressaíram nessa obra de quase 40 discos de material inédito. Os LPs gravados na década de 70, estão entre os maiores já feitos no país. Os anteriores mostram um artista que exibe uma grande maturidade ainda na juventude, enquanto o material dos anos 80 e além mostram um artista com o pleno domínio de sua arte.

Celebre os 80 anos de Chico ouvindo cinco de seus melhores discos.

"Construção" - 1971

Chico Buarque


"Construção" foi eleito recentemente um dos dez melhores já feitos no Brasil. Com pouco mais de 30 minutos e dez faixas, "Construção" é obra-prima de cabo a rabo, não só pela música que lhe dá título - com a letra intricada e o arranjo inesquecível de Rogério Duprat - mas também por "Cotidiano", "Olha Maria" e "Samba de Orly".



"Meus Caros Amigos" - 1976

Chico Buarque


"Meus Caros Amigos" tem parcerias com Francis Hime e o teatrólogo Augusto Boal e músicas feitas para filmes e peças em meio às canções escritas apenas por Chico. A mistura poderia ter resultado em um disco sem muita unidade, mas não foi o que aconteceu. Além de grande sucesso de vendas, o álbum é um dos mais bem sucedidos artisticamente do compositor.



"Chico Buarque" - 1978

Chico Buarque


Nenhum compositor sofreu tanto nas mãos da censura quanto Chico Buarque. A perseguição o forçou a abusar da criatividade, seja criando um pseudônimo (o "Julinho da Adelaide") ou deixando mensagens cifradas nas letras. O "disco da samambaia", outro blockbuster, é uma espécie de limpeza da gaveta.

Lançado na época da anistia, ele traz músicas que haviam sido proibidas nos anos anteriores, como "Cálice (part. Milton Nascimento)" e "Apesar de Você", que teve o compacto recolhido das lojas em 1971 após ter vendido mais de 100 mil cópias.

"Tanto Mar" foi feita em celebração à Revolução dos Cravos em Portugal, e "Feijoada Completa" saudava a chegada de um tempo menos sombrio - lembrando que ainda teríamos mais sete anos de regime militar pela frente.

O LP tem ainda canções feitas para a peça "A Ópera do Malandro" e "Trocando em Miúdos", parceria imortal com Francis Hime.



"Almanaque" - 1981

Chico Buarque


Além da ótima capa e encarte, o segundo disco do cantor na década de 80 trazia as inspiradas "O Meu Guri" e "As Vitrines", ambas sucessos populares, além de "Amor Barato", outra parceria com Hime, e "A Voz do Dono e o Dono da Voz". Mais um disco curto, menos de 30 minutos, que vale cada sulco.



"Paratodos" - 1993

Chico Buarque


Da safra mais recente de Chico, esse álbum, que completou 30 anos em 2023, é o grande destaque, especialmente pela faixa-título, que se tornou um enorme sucesso. "Paratodos" é ótima, mas não é o único destaque do LP. "Futuros Amantes", "Piano Na Mangueira" (parceria com Tom Jobim) e "Choro Bandido" são igualmente brilhantes.