Quem tudo olha quase nada enxerga Quem não quebra se enverga A favor do vento Eu não sou perfeito Sei que tenho de pecar Mas arranjo sempre um jeito De me desculpar
Eu lá na Penha agora vou estifa¹ Mas não vou como um cafifa² Quem foi lá desacatar Mas a força falha Ele teve um triste fim Agredido a navalha Na porta de um botequim
Pra ver a minha santa padroeira Eu vou à Penha De qualquer maneira...
Faz hoje um mês que fui naquele morro E a Juju pediu socorro Lá da ribanceira Toda machucada Saturada de pancada Que apanhou do seu mulato Por contar boato
Meu coração bateu a toda pressa E eu fiz uma promessa Pra mulata não morrer... Pela padroeira Ela foi bem contemplada Levantou do chão curada Saiu sambando fagueira
Eu vou à Penha de qualquer maneira Pois não é por brincadeira Que se faz promessa E o tal mulado Para não entrar na lenha Fez comigo um contrato Pra sumir da Penha
Quem faz acordo não tem inimigo A mulata vai comigo Carregando o violão E com devoção Junto à santa milagrosa Vai cantar meu samba prosa Numa primeira audição
¹ Gíria da época: alinhado, bem-vestido. ² Gíria da época: sujeito sem sorte.
Compositores: Noel de Medeiros Rosa (Noel Rosa), Ary Evangelista Barroso (Ary Barroso) ECAD: Obra #198344