Sou do chão negro asfalto da avenida São João. Sob o escuro manto fumaça a sombra do Minhocão. Sob o céu cinzento de São Paulo insano e mau. Brasileiro cuspido dos canhões da Hungria cigano e bárbaro Bastardo dos portugueses mouro feroz e bárbaro Desorientado dos beijos de língua e lugares embaralhados Que quando se beija não se ouve palavra
Da rua Apa quando desaba a Barra Funda dos prostíbulos De toneladas de poeira e fuligem sobre a poesia Judeu de disfarce católico ateu crente no candomblé De todas as fugas e enfrentamentos continuo de pé Aqui nesta esquina não se ouve nem pensamento
Entre as paradas militares nos meus dez anos de idade A bola no alto da estátua da Marechal Deodoro De quando meninos se encontravam na rua E todo menino era menino de rua E todo homem acreditava estar com um pé na lua
A minha nação gigante abandonada no berço Com braços e pernas formigando sobre o próprio peso Eu mesmo petrificado diante de tais edifícios De volta a esta praça pra dar sombras aos mendigos Dessa cidade que me deu nome e não me dá ouvidos.
Compositor: Paulo Roberto de Souza Miklos (Paulo Miklos) ECAD: Obra #47321 Fonograma #2423638