Roberto Ribeiro
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Cabide de Molambo

Roberto Ribeiro

Poeira Pura


Meu Deus eu ando
Com sapato furado
Tenho a mania
De andar engravatado

A minha cama é um pedaço de esteira
E uma lata velha, que me serve de cadeira

Meu Deus, meu Deus

Meu Deus eu ando
Com sapato furado
Tenho a mania
De andar engravatado

A minha cama é um pedaço de esteira
E uma lata velha, que me serve de cadeira

Minha camisa
Foi encontrada na praia
A gravata foi achada
Na ilha da Sapucaia
Meu terno branco
Parece casca de alho
Foi a deixa de um cadáver
Num acidente de trabalho

Meu Deus, meu Deus

Meu Deus eu ando
Com sapato furado
Tenho a mania
De andar engravatado

A minha cama é um pedaço de esteira
E uma lata velha, que me serve de cadeira

E o meu chapéu
Foi de um pobre surdo e mudo
As botinas foi de um velho
Da revolta de Canudos
Quando eu saio a passeio
As almas ficam falando
Trabalhei tanto na vida
Pro malandro estar gozando

Meu Deus, meu Deus

Meu Deus eu ando
Com sapato furado
Tenho a mania
De andar engravatado

A minha cama é um pedaço de esteira
E uma lata velha, que me serve de cadeira

A refeição
É que é interessante
Na tendinha do Tinoco
No pedir eu sou constante
Seu português
Meu amigo sem orgulho
Me sacode um caldo grosso
Carregado no entulho

Meu Deus, meu Deus

Meu Deus eu ando
Com sapato furado
Tenho a mania
De andar engravatado

A minha cama é um pedaço de esteira
E uma lata velha, que me serve de cadeira

Composição: João da Baiana

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