Sou cantador de Cajazeira E vim cantar a minha gente Gente que não foge do aço Gente que não corre de macho Nem de onça ou de mulher Venho cantar a minha gente Lá das bandas de Cajazeira Onde um coronel diz que é dono de tudo Coronel Fragoso Horroroso, viúvo, velho, e "varrigudo" Como dizia o bom Joaquim pelas ruas de Piancó Fazendo chacota dele Quando alguém dizia que em compensação Ele tinha a casa mais bonita da cidade Quero um cantinho nessa feira Prá eu cantar a minha gente Gente que não foge da terra Gente que não corre de guerra De arruaça e o que vier E não foge tampouco do coronel Fragoso De quem todo mundo corre E quase se borra de medo Quando ele vem subindo a jaqueira Enfezado com a debandada de sua gente Ou com a seca do sertão Quem quizer que venha ver meus causo Que eu conto com satisfação pra clarear as cabeças De bom pensar Sobre o acontecido em Cajazeira Lá onde um coronel diz que é bom que só Deus Porque dá metade pra quem planta e cuida do seu gado Quem quiser que venha ver se está tudo certo ou errado No meu causo acontecido Se gostar que faça uso e bom proveito Se não gostar continue deixando tudo esquecido
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Tem dó dele tem tem dó dele que ninguém tem dó só dele tem quem carece de dó também
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Êta mineiro ê Êta mineiro a Venha cá que eu trago história Venha cá se arrepiar Toda história que se conta tem mentira dentro Tem valente que não é valente Tem tristeza que não leva a gente Tem amor que acaba de repente Tem chão verde que não dá semente Êta mineiro ê etc…. Toda mentira que se conta tem verdade dentro Tem covarde que um dia é valente Tem tristeza funda que só cacimba Tem amor que dura mais que a gente Até chão seco um dia dá semente Êta mineiro ê etc….
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Atenção se esconda agora Bota a capela no padre Tira o padre da capela Bota a janela na moca Tira a moça da janela que aí vem desembestado o mais cruel e malvado jagunço dessa onça de terra Meu nome é Zé do Cão Jagunço não nego não A vida me deu por sorte Levar a morte pelo sertão Meu nome é Zé do Cão De morte ainda intero mil Meu Deus é minha peixeira e meu padroeiro o Santo fuzil
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Não sei mais sorrir Não sei mais chorar Vou fazer das penas Do meu penar Uma ave branca E sair pro céu E seguir no céu Os caminhos do mar E olhar o mar E ficar no mar E deixar no mar A pena e o penar E depois voltar Sem pena e penar E depois sorrir E depois chorar.Bento Terêncio Severino e Lucas Vem cá vem cá me ouvir Não tá certo ir se embora Não tá certo não partir Quem parte morre la fora Quem fica morre de não ir Nossa reza é fé na terra Fé nas mãos que a gente tem Não adianta Zé Tulão Vontade do coroné é faca de duas ponta Eu sei disso meus irmão O ano inteiro a gente só plantou pra semente dar Temo é que ficar Pra cumprir nosso trato com seu coronel Que vai ter de pagar Não dá certo Zé Tulão Chuva que é bom não cai E não vai ter nada pra ninguem vem o coronel pra levar a metade dele e a nossa parte a seca já levou nada disso não óxente a nossa parte o coronel vai ter que nos entregar se a terra é dele e a sêca é da terra a sêca e a terra são lá dos seu coroné Pediu pra dizer olerê Eu digo o que sei olará Mas se não pedir olerê Eu digo assim mesmo olará Só falta dar o que não tem Pra quem só tem e não que dar
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Rei dos porões Do reino animal Macauã Rei dos dragões Do reino animal Macauã Satanáz diz que ele é seu pai E a mãe de Zé Bedeu Macauã
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Primeiro dia de folga Combinaram um mutirão Veio todo o povoado Ajudar o Zé Tulão Bento Terêncio Serverino e Lucas Homem mulher velho criança e cão Todo mundo deu seu pouco Até Maria do Grotão Amarra o pau bate o pau Segura com pau de forquilha E bota um outro pau Macacada amarra o pau etc… Zé Tulão pagou com festa O trabalho dos irmãos Veio todo o povoado Só ficou quem tinha dor Bento Terêncio Severino e Lucas Homem mulher velho criança e cão Todo mundo abriu a roda Pra Maria e Zé Tulão Amarra o coco vai Tulão Segura na cintura dela e bate o pé no chão Macacada Amarra o coco etc… Lá vou eu Tulão das estrelas Tulão raio Tulão das estrada Lá vou eu Êeeeee boi
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Em noite de luar no céu Maria do Grotão, ai, se deu Um cão latindo ao longe E Zé Tulão derrubou sua fulô Os gemidos de Maria Só quem pôde ouvir Foi Mandacarú Dorme que só é bom sonhar Sonha que o mundo vai se acabar Que a gente foi pra longe onde ninguém Tem carência de levar O que a gente fez nascer Com trabalho e dor Morte e amor.
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Vamo falá lá com seu coroné Que não tá certo não a gente dividir De tanta vaca ficou umazinha só De tanto milho uma espiguinhas só E todo mundo quer E tem razão de se querer E todo mundo quer Que tem seus filho e tem mulher Que não tá certo ficar vendo O mundo se acabar No retão das amarguras Nos rumos do mar E todo mundo quer… *** Fé na terra e pé na estrada Ferra o pensamento e vamo andá Olha a morte chegando Na dança do amanhecer Olha os anjos trazendo Incelencas no seu cantar Olha que é vem la longe Os capetas todos do inferno Vem pra levar mais um pecador Olha os olhos da morte Espiando em toda oração Ouve o cantar dos anjos Abrindo as portas do céu Veja a vereda e o fogo Trazendo o inferno em festa Olho por olho em cada olhar Virgem santa o meu medo é tanto Que chego a me arrepiar Quando vejo meus companheiros Partindo pra não voltar Nesta estrada desesperada Chegança em nenhum lugar Quando a terra se arrebenta Sem jeito de consertar*** Boas tarde coroné Se vem a seca a gente não tem culpa A culpa é do céu Se a terra é sua e a sêca é da terra A terra e a sêca são do senhor Coroné Nada disso não oxente Já que a terra é minha então É claro é minha também A vaca Zabé E as espiga de milho E não tem nenhum macho que venha levar Vamo sim seu coronel E tamo aqui pra isso E ninguém mais vai arredar pé Se quiser por bem vamo lá se explicar Se não quiser por bem Marque hora e lugar Pediu pra dizer olerê Eu digo o que sei olará Mas se não pedir olerê Eu digo assim mesmo olará Só falta dá o que não tem Pra quem só tem e não qué dá
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Primeira nuvem no céu A tristeza se arribou Veio todo o povoado Só ficou quem tinha dor Bento Terêncio Severino e Lucas Homem mulher velho criança e cão Todo mundo foi pro campo Até Maria do Grotão E vai chover chuva chover E vai ter festa a noite inteira Se chuva chover macacada E vai chover etc… Lá vou eu Tulão das estrelas… *** Severino me arresponda Quantos burro deu a mula Além desse que é Terém Além de Terém deu a mula outro burro que morreu com a sêca que vai e que vem A terra é do coronel Se vem a seca a gente não tem culpa A culpa é do céu Se a terra é dele E a seca é da terra A terra e a sêca são lá do seu Coronel Nada disso não oxente Se a terra é dele então é claro É dele tambem O que dá na terra o que cresce na terra E é portanto dele o burrico Terem O burro do coronel Morreu com a seca e está na terra farta Que deus lhe deu O terém é a paga de quem trabalhou E a minha conta só burro não percebeu
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Zé Tulão é chegada a tua hora Vá fazendo o teu último pedido É na faca é na foice é no estampido É no verso é na rima e sem demora Já que tu vai correr comece agora Que no fim da peleja esta Maria Vai levar das minhas mãos a luz do dia Que só sendo jagunço em qualquer lida Pode o cabra possuir tudo na vida E entregar a uma mulher toda alegria Treme a terra e o trovão se arrebenta Toda vez que um vaqueiro se enfurece Mãos pro céu se levantam numa prece Corre o fraco e o forte não se aguenta Pára o rio o mar não se movimenta E se então é por amor a luta dobra Pois coragem de amar tenho e de sobra Se acabou Zé do Cão prepara a cova Que eu te pego te alejo e dou-te sova E te faço rastejar pior que cobra É o inferno no meu canto de guerra Pois consigo arrancar da pedra o pranto O meu nome é temido em todo canto Onde voam as aves sobre a terra E se existe um amor atras da serra Não há nada que feche o meu caminho Eu enfrento a vereda e todo espinho Ouve bem Zé Tulão segura o tombo Que eu te capo te esfolo caço e zombo Sou leão e tu és o passarinho Se é o inferno no teu canto de guerra É no inferno o meu canto de paz Por amor eu derrubo Satanás Bem e mal são a luta desta terra Mas comigo o que é mal a lança ferra Corre Cão Pé de Vento e Lucifer Corre todo diabo que vier Pelo bem desse amor digo e não nego Eu enfrento um batalhão e não me entrego Zé do Cão tu pra mim é uma mulher
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Bento, Terêncio, cadê eles Foi o jagunço que matou Bento, Terêncio, cadê eles Foi o jagunço do coronel A noite que tinha era escura Que santo nenhum podia alumiar Noite que só dá lobisomem E os home do seu coroné Mataram o Terêncio dormindo E Bento que fazia um Bentinho Pegaram todo milho que tinha E a pobre da vaquinha Zabé Zeferino ta morto no mato E Lucas ficou sem cabeça Só falta você Tulão E é vem jagunço
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Ê … sai da toca seu jagunço Que eu não mato à traição Sai da toca seu macaco Vem que eu te pego e te capo Vem que eu dou conta de cinco Vem que eu dou conta de seis Vem jagunço traiçoeiro Que eu mato um de cada vez Tome peixeira no bucho Agora é cinco o que era seis Tome peixeira no bucho Lá se foi um , dois e strês Tome peixeira no bucho Agora só tem nós três Tome peixeira no bucho Falta um pra interar seis.
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Quando o corpo vai prum lado e vai pro outro o coração cante que só passarinho jogue o corpo na canção que o coração vê caminho e os pés se movem no chão
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Homem mulher velho criança e cão Desce o corpo do vaqueiro Que tambem era o jagunço Todos dois num homem só Joga terra em cima dele Que seu nome é pedra é pó
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Rei dos porões Do reino animal Macauã Rei dos dragões Do reino animal Macauã Satanáz diz que ele é seu pai E a mãe de Zé Bedeu Macauã
Compositor: Joao Lutfi (Sergio Ricardo) ECAD: Obra #1905318 Fonograma #3232562