Silvia Negrão
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Catibiribão

Silvia Negrão


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Lá bem longe, espia só
Numa cidade ribeirinha
Enfiada na floresta
Lá pras bandas do Amazonas
Quase, quase em Marajó
Bem de Noite, numa festa
A moçada ia chegando
Dando riso e gargalhada
Animada pra dançar
Iam caindo no Batuque
Caprichando um Carimbó
As menina passeando
Os rapazes sapiando
Os parzinhos se formando
Pois nesta festa, se sabia
Ninguém ia ficar só
A festança ia ligeira, a lua espiviteira
Clareando como um sol
Foi aí que assucedeu
Foi que ele apareceu
Mas ele quem?

Eu não vi, não, catibiribão, samaracutão, firifirião
Contaram pra mim, catibiribim, samaracutim, firifiriim
É conversa mole, catibiribole, samaracutole, firifiriole
Só sei que foi assim, catibiribim, samaracutim, firifiriim

Uma rapaz muito formoso
Aparentado ser fogoso
Cheirando um cheirinho cheiroso
Pra matar o catingoso
Foi chegando bem falante, com o pisado elegante
Vestido de terno branco e na cabeça um chapéu
Veio entrando, veio vindo
E foi com a moça conversar, daí cumpouco
Já sorrindo, tirou ela pra dançar
E tirou duas, tirou três, não parava de agradar
E as meninas, suspirando
Esperando a sua vez de também rodopiar
Deu-se um cochicho danado
Mas de onde ele será?
Eu nunca o vi por essas bandas
Nem por Soure ou Curuçá
Mas do moço ninguém sabia
Nem uma vírgula contar
E o rapaz misterioso parecia nem ligar
E as moças, já doidinhas pra com ele namorar
Mas quem é este um?
Entre os homen'um zum-zum-zum
Eu aqui, vou me danar!
Ele nem é desse lugar!
Vamo correr com ele daqui
Mas expulsar o moço não dá
É falta de gentileza e as moças vão xingar
Entre as muié o ti-ti-ti: Ai, Ai, Ai Jesus, Doutor
Esse moço é um amor!
E o estranho prosseguia enfeiticando
Todas elas, com seu jeito de dançar
Esse moço tinha um segredo
Só de falar eu sinto medo
Sinto até arrupiar! - Conta logo!

Eu não vi, não, catibiribão, samaracutão, firifirião
Contaram pra mim, catibiribim, samaracutim, firifiriim
É conversa mole, catibiribole, samaracutole, firifiriole
Só sei que foi assim, catibiribim, samaracutim, firifiriim

Esse moço é encantado, ele não é gente, não
Ele é bicho, esse danado! Vocês podem acreditar!
No curucuto da cabeça, bem debaixo do chapéu
Ele tem um buraquinho, um furinho pequenino do tamanho de um anel
Que fica o tempo todo se abrindo e se fechando
E é por aí que o moço vai respirando
Como é que é?

Eu não vi, não, catibiribão, samaracutão, firifirião
Contaram pra mim, catibiribim, samaracutim, firifiriim
É conversa mole, catibiribole, samaracutole, firifiriole
Só sei que foi assim, catibiribim, samaracutim, firifiriim

É que no meio da floresta, por dentro do grande rio
Esse moço é como um peixe, esse é o seu feitio
Nadando dias e noites, por horas meses a fio
Mergulha e some daqui, cumpouco aponta acolá
É um bicho, ele é um boto
Que nada de um lado pro outro
Esperando a lua cheia pra poder se encantar
E transformar em homem bonito
Que dá gosto de olhar
E numa noite, bem de noite
E sobre as águas do rio
A lua vem pra me mirar
O boto vai la pra beira e fica bem a esperar
E de longe só se escuta o forte se respirar
Sopra pelo buraquinho, pelo nariz da cabeça
Um barulhinho de vento e água
Esguichando sem parar
E de repente, um silêncio
Que dá pra desinqueietar
Se cala o rio, a natureza, toda criatura viva
Não se escuta nem um pio
Nem pum til, nem um siu
Até o grilo e sapo-boi não se arriscam de cantar
O Silêncio é tão grande, que se gela de escutar
De repente, a assombração pula de dentro do rio
Só se vê um vulto branco, sobe ligeiro o barranco
E se aprumando num tranco logo se põe a andar
E o bicho já não é mais bicho
É um homem feito, perfeito, formoso, cheirando a flor
De terno alvo, seco, engomado
Chapéu, na cabeça enfiado, que não tira nem se mandado
Nem se obrigado for
Lá vai moço-boto, encantado
Direitinho ao povoado
Segue a linha enluarada, vai sonhando de encontrar
A festa mais animada, se enfiar dentro do povo
Pra com as moças namorar
E depois desse momento
Mesmo sem ter casamento, uma vai se engravidar
E o reboliço todo, de novo... Vai começar!
Hum! Hum! Tu visse?

Eu não vi, não, catibiribão, samaracutão, firifirião
Contaram pra mim, catibiribim, samaracutim, firifiriim
É conversa mole, catibiribole, samaracutole, firifiriole
Só sei que foi assim, catibiribim, samaracutim, firifiriim

Compositor: Silvia Maria Soares Negrao da Fonseca (Silvia Negrao)
ECAD: Obra #18827786 Fonograma #805565

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