Galho velho encurvado da madeira Mais robusta que esse meu chão criou, Foi a força dos anos que o vergou E o curvou como estrada de ladeira. Foi a enxada, a tua companheira De uma vida inteira e mal vivida, Sob o sol inclemente e desvalida De uma sombra, de água e de conforto... Eu não sei como ainda não estás morto, Dando a tua sina por cumprida.
Galho vesgo...Meus dias também o são! E sou eu, igual tu, pobre rebento Desse tronco, de velho, já cinzento Pelo quente que queima sem perdão. Tuas curvas nas costas são, senão, Testemunho fiel desse destrato, Do destino cruel, do tempo ingrato. Te roubaram o vigor e a saúde E a pretexto da caridade ilude Tua fé de roceiro, homem pacato.
Ao mirar cada sulco nesse rosto Já se vê desenhar numa só cor Cada golpe que o tempo, sem favor, Aplicou-lhe por dever ou por gosto. Cada ano sobre esses ombros posto Vai pesando e seu corpo vai pendendo Ao cansaço geral vai se rendendo. O vigor que lhe dava a mocidade Esvaiu-se sob o peso da idade, Galho velho encurvado vai morrendo.
Quem o olha agora, assim, despido Da folhagem e da viçosa rama Sente que, lá por dentro, uma coisa inflama De ver o teu suor tão consumido, Sob o jugo da canga escorrido A formar um riacho; e no seu leito Um profundo buraco que, no peito, Chega até suas águas despejar A fazer do teu ser, um grande mar De histórias e lutas todo feito.
E com sua licença, vou entrando Ou quem sabe, tu entras em minh’alma Inquieta, sem ter do mundo a calma, De quem palma não pede suplicando. Glória alguma está ela almejando, Mas de ti solicita permissão Para falar ao povo, à multidão Que exposta, ao sol, está calada E faz de conta que não tá vendo nada E presume-se livre, na prisão.
Passarinho cantou na palmeira Passarinho canta na palma
Compositor: Maria Lira do Socorro Pereira (Socorro Lira) ECAD: Obra #1711971 Fonograma #1213263